Biodiesel

Se há um problema que precisará ser enfrentado e resolvido pelo próximo governo é o da energia elétrica. O apagão de 2001 mostrou claramente como a eletricidade é essencial para todas as atividades produtivas e do país. Bastou um problema com os reservatórios de água para geração de eletricidade, devido a secas prolongadas e imprevidência do planejamento do setor, para que uma grande crise se abatesse sobre nós. A eletricidade que nos faltou — e que causou a crise — foi de apenas 20% do total, mas isso mais do que bastou para causar os estragos que causou. O problema que enfrentamos agora pode ser até mais grave: o país precisa crescer e, com isso, também o suprimento de energia.

No curto e médio prazos, o setor do petróleo não é o problema porque atingimos a auto-suficiência na produção e teremos garantidos os próximos 10 ou 20 anos. Junto com o sucesso do programa do álcool e dos veículos flex, a situação é até confortável em termos de suprimento. O óleo diesel é o principal responsável pela poluição do ar nas grandes cidades brasileiras, mas a Petrobras tem em andamento um programa para melhorar suas refinarias de modo que, em 2008, o combustível para uso metropolitano terá muito menos impurezas que o atual. O biodiesel tem sido muito divulgado como uma promessa, mas na prática tem sido até agora mais um programa de agricultura familiar e assistencial do que de efetivo suprimento de energia e, por isso, terá que ser reformulado.

O grande problema é a eletricidade, que representa grande parte da energia que consumimos: o Brasil tem um índice de eletrificação similar ao de países industrializados. Temos instalados 100 mil megawatts de capacidade, dos quais cerca de 80% são hidroelétricos e o restante basicamente usinas térmicas à base de carvão, óleo combustível, madeira, bagaço de cana e nuclear. Estima-se que o sistema elétrico brasileiro tenha de crescer pelo menos 4% ao ano para atender ao aumento na demanda, mesmo considerando o atual baixo crescimento da economia. Se o país de fato crescer mais, como desejam todos, precisaremos de mais eletricidade ainda.

Do ponto de vista ambiental, o ideal seria que a expansão do sistema elétrico ocorresse com usinas hidroelétricas, que são menos poluentes. Nossos grandes potenciais hidráulicos inexplorados estão na Amazônia mas o atual governo não conseguiu resolver os problemas no licenciamento ambiental das novas usinas. As contradições internas do governo federal, com conflitos públicos e deploráveis entre os Ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia, não têm ajudado na solução.

Esses empreendimentos são licenciáveis desde que os projetos sejam mais bem estruturados e incorporem compensações ambientais e sociais, como foi o caso de Itaipu e até o de Porto Primavera, no estado de São Paulo. Concluir a usina nuclear de Angra III vai exigir sete ou oito anos, o que não terá significado nenhum no horizonte do próximo governo, além de exigir altos investimentos que poderiam ser melhor utilizados.

José Goldemberg Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

O principal atrativo das termoelétricas em relação às hidrelétricas é que podem ser construídas mais rapidamente. Mas a conseqüência da incapacidade do governo federal nessa área é provocar um aumento da geração térmica usando carvão de baixa qualidade, o que é a pior das soluções tanto do ponto de vista econômico como ambiental. As trapalhadas diplomáticas com a Bolívia também não ajudaram em nada e a tão anunciada grande expansão do uso do gás natural — que seria uma boa solução — não se materializou.

Estamos, portanto, na contramão da história, optando por soluções mais poluentes que trarão de imediato: custos adicionais à saúde, mais geração de gases que causam o efeito estufa e, mais tarde, elevados custos para sua correção, negligenciando a solução menos poluente e mais duradoura que é a hidroeletricidade.

Além disso, o governo federal vem ignorando a necessidade premente de um programa ambicioso e mandatório de racionalização no uso de energia. Tal programa já existe em lei, mas muito pouco foi implementado. A sociedade brasileira mostrou com o apagão de 2001 que sabe economizar, mas faltam incentivos adicionais e ações fortes para mudar a situação atual. O que cabe, pois, ao novo governo fazer de imediato na área de energia e meio ambiente é rever o atual modelo do setor elétrico.

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